Tuesday, December 30, 2008

Harmonia


Há uma música sendo tocada pelos astros.
Nós não podemos escutar. O motivo é simples: seis ou mais filtros (sentidos) limitam nossa capacidade de perceber.
O certo é que, quando formos energia, sentiremos essa música ressoando através de nós.
Por enquanto, há uma única maneira de apreciá-la, ainda que não seja por completo: amando. Pois, em nós, só o amor não é filtro; não é condicionante, nem condicionado; não é amarra e nem prisão. O amor é o vôo que nos liberta, a nossa conexão com tudo aquilo que transcende.

Monday, October 20, 2008

Clareira

Algumas vezes, vazio é a ausência ou falta daquilo que preenchia um espaço e já não o faz. É sentir que algo se foi, se perdeu, deixou de estar; dissipou-se no tempo e apenas deixou gravado na lembrança um verbete da emoção que anteriormente proporcionava.
Outras vezes, vazio é começar a sentir desocupado um espaço que nem ao menos se sabia da existência, ou da qual se tinha apenas uma dispersa desconfiança. Nesse caso, vazio passa a ser um lugar a ser preenchido, suprido... E no caso, meu caso.
O vazio que agora eu sinto é o vazio de um plano concreto, de um futuro certo... Estou no fim de uma fase, e nem chega a ser como ter pela frente um desfiladeiro; me sinto, mesmo, como se estivesse olhando uma placa que não cansa de apontar distintas direções, possibilidades de destino... E então, começo a achar que a gente tem mesmo escolha. Escolha entre deixar ser e fazer ser.
- Branquinha, ilumina.

De Sanna Annuka: "The Owl Keeper",

que ronda as florestas do norte,

derramando claridade sobre os caminhos.

Monday, February 18, 2008

Céu artifício

Eu poderia até tomar como fogos de artifício, as bombas que eu vi acendendo o céu diurno. Eu poderia, tranquilamente, tomar como parte de um filme, todas as armas e a destruição. Mas é que por trás de todos os graves, só um único agudo foi capaz de me tocar: o choro de uma criança. Caberia aqui uma foto dessa criança, dessas tantas fotos que eu acharia com um clique. Mas não, acabaram-se as imagens que chocam, esgotaram, foram armazenadas num banco de incredulidades que carregamos a frente de nossas lágrimas. Vou, portanto, descrever a criança que eu ouvi. A sua volta, no chão, havia um lençol azul, que, exatamente como o céu, trazia consigo manchas cinza de fumaça. Havia pedaços de madeira amontoados sobre outros amontoados irreconhecíveis, e todos esses se inclinavam para ver o sopro de vida que restara. Era um menino; estava sentado, na posição em que meninos costumam a brincar. Mas ele não estava brincando. Seu choro não chorava fome ou frio, derramava a poeira acumulada sobre as pálpebras; assim as lágrimas traçavam ali um leito de um rio tão profundo, que marcará suas margens ali por cinqüenta, cem anos, uns dias... Esse menino de cabelos pretos, pele morena, olhos arregalados para o céu, olhava embargado, ora para suas mãos sujas, ora para o lado, em busca de alguém que as pudesse limpar (apenas ele não sabia o quão limpas ainda estavam suas mãos).
E por conta dos graves que não deixaram de evocar uns aos outros, minha cabeça retumbou em dor; mas nenhum analgésico desses genéricos poderia me sanar a mente. Talvez apenas um: aquele feito de farinha que todos nós tomamos para disfarçar a enxaqueca e dormir um justo sono. Efeito placebo, e a próxima notícia é sobre o aquecimento global.
Como disse a mim, desse jeito, o poeta: mundo, não cabe no meu defeituoso globo ocular, mas deixa todas suas marcas no meu coração.