Então, chegou aquele que todos estavam aguardando, embora veladamente torcessem para que não viesse. Ele estava vestido de maneira formal, uma calça social impecável, camisa branca e um sapato preto brilhante. Não usava gravata, nem paletó. Porém, ninguém se enganava, era uma ocasião extraordinária, daquelas onde tudo que se quer é desaparecer, por algumas horas ao menos. Todos permaneceram de pé, prendendo a respiração, até que ele atravessou toda a extensão daquela longa sala, com um andar compassado, como se faria em uma marcha fúnebre. Em contraste, sua expressão era divertida, cumprimentava a todos com um sorriso sincero; para quem não o conhecesse, claro. Quando ele se assentou, foi possível ouvir o couro de sua cadeira amassando, tamanho era o silêncio. Então, todos se sentaram na mesma hora, de maneira ensaiada, quase que teatral.
Ele pigarreou, à medida que ajeitava as folhas de papel que, olhando de longe, mostravam gráficos e números inteligíveis. Começou a falar, com a voz grossa e aveludada habitual:
- Meus caros, acredito que nem todos estão cientes do momento em que estamos atravessando.
Era desconfortante imaginar, mas qualquer que fosse o momento em travessia, a conta bancária de apenas um sujeito daquela sala estava suficientemente preparada para um anúncio da importância com que, àquela altura, se podia prever. Ele voltou a falar. A sequência exata de palavras não me recordo tão bem; pois, dali em diante, me prendi a observar a expressão de todos os outros sentados ao redor da sofisticada mesa de madeira.
Hoje, passado algum tempo daquele episódio, me parece muito óbvio um raciocínio: numa conjuntura como a que nos encontrávamos, trabalhando numa empresa daquele porte, fosse a notícia boa, não estaríamos mais felizes do quê aquele sujeito, e fosse a notícia ruim, estaríamos, com certeza, mais ferrados do quê ele. Talvez, pensando assim, o sorriso dele até fosse sincero. O meu não...
Ele pigarreou, à medida que ajeitava as folhas de papel que, olhando de longe, mostravam gráficos e números inteligíveis. Começou a falar, com a voz grossa e aveludada habitual:
- Meus caros, acredito que nem todos estão cientes do momento em que estamos atravessando.
Era desconfortante imaginar, mas qualquer que fosse o momento em travessia, a conta bancária de apenas um sujeito daquela sala estava suficientemente preparada para um anúncio da importância com que, àquela altura, se podia prever. Ele voltou a falar. A sequência exata de palavras não me recordo tão bem; pois, dali em diante, me prendi a observar a expressão de todos os outros sentados ao redor da sofisticada mesa de madeira.
Hoje, passado algum tempo daquele episódio, me parece muito óbvio um raciocínio: numa conjuntura como a que nos encontrávamos, trabalhando numa empresa daquele porte, fosse a notícia boa, não estaríamos mais felizes do quê aquele sujeito, e fosse a notícia ruim, estaríamos, com certeza, mais ferrados do quê ele. Talvez, pensando assim, o sorriso dele até fosse sincero. O meu não...