Sunday, May 14, 2006

o mímico

Esforcei-me para fazer entender, que não era necessário eu dizer,
se alguém também se esforçasse, um pouco, para sentir,
que tudo que havia para ser falado estava nesses meus gestos,
meio desajeitados, um tanto quanto carregados,
das palavras que eu gostaria de ter.

A criança faz um pássaro voar com a mão.
O pássaro rodopia no ar quando alguém adivinha e diz;
a mão se desfaz, embica e cai,
estatelado no meu papel, onde jaz a palavra pássaro,
em reverência àquele que voou um dia,
na mão do menino.

Monday, May 08, 2006

eu, eco, eco e eu

na caverna da solidão,
é bom:
poder gritar, sem incomodar ninguém.

cortou o cabelo?

Sou camaleão de corpo inteiro, talvez de alma; não foi só meu corte. Aliás, sorte sua ter reparado. Pra falar a verdade eu nem importo, porque se pensou que eu sou isso, já errou, pois já não sou. Nem mesmo aquilo que eu seria, é mais, porque já deixei de acreditar nesse futuro, num passado ainda mais remoto. E então o quê pensou que eu seguiria, já não passa nem perto do quê eu sigo, se já mudei tantas vezes de estrada, ela já mudou muitas outras de mim, e eu já a fiz mudar outras tantas. Pensando bem, sobre meu corte, seria melhor nem ter reparado...

“Sem fantasias,
o Camaleão,
pula carnaval.” (Admir Borges - Hai-Cai)