Sunday, November 05, 2006

Atlântico


Transbordou em mim suas mágoas, buscando uma distância infinitamente superior à minha compreensão. Gritou alto, numa concha, esperando que alguém escutasse de algum lugar perdido no tempo. Esperou que a brisa levasse, leve, de volta ao solo que instintivamente sentia como lar. A maré subiu aos poucos, arrastando o que pudesse não revelar verdade. Um oceano de profundezas dentro de cada vida, que remete a muitas outras, numa cadeia infinita de fatos. Uma ilha, nós todos, um arquipélago, afundando e se elevando. De todas as outras estrelas refletidas na água, num azul escuro, você foi estrela-do-mar, amor tão grande só pode existir para ser possível. Mergulho...

Friday, November 03, 2006

equilibrista do futuro certo


Me falta coragem de arriscar qualquer idéia num papel, que tenha assim: um jeito de poesia. Do quê eu sinto, o papel não aceita mais, me rejeita como alguém que eu traí a confiança, me entregando a outros braços; se ele soubesse que os números, que agora aqui estão, ao invés das velhas rimas, não representam nenhuma lógica pro meu coração, não largaria tão ao acaso um alguém tão dedicado, um sentir tão carregado, que entre todos os espaços largava um universo de paixão. Que azarão, eu fui pro lado contrário, equilibrando um passado, projetado num futuro, aonde não havia mais lugar pra verdade mais sincera, que me grita lá de baixo, já largada há muito tempo, numa rede infinita de mentiras, que convencem a mim mesmo de um futuro certo.

Tempos modernos


Andei por aqui esperando ser acometido por alguma onda de inspiração, como costumava acontecer há algum tempo. A verdade é que os tempos são outros, estou aprendendo outras coisas, me importando com outras questões, me perdendo tanto de mim que eu nem me reconheço mais aqui nesse espaço... As pessoas mudam, os afazeres mudam, as idéias mudam, só os erros permanecem, e como fantasmas eles voltam vez ou outra para me atormentar com a mesma veêmencia do passado; talvez por isso, esse impulso de me mudar de mim mesmo por uma temporada. Que piada desgastada sou eu mesmo tentando ser um eu, que já deixou de ser, há muito tempo. Rima, sem poesia, idéia, sem ideologia... Das bonitas coisas do meu mundo, só me resta o amor, que se supera a cada dia, num dia-a-dia tão sofrível, tão perverso comigo mesmo. Hoje eu tenho aptidão pra fazer de conta que eu faço a coisa certa pro futuro, um futuro tão vazio da minha presença, que daí a pouco não faria falta para ninguém se quem eu realmente sou não estivesse mais nele.