Saturday, December 29, 2007

Eu único

Experimente fitar os olhos no espelho, bem de perto. Verá que no fundo de suas janelas da alma encontrará a si mesmo, a corresponder-lhe o olhar. Logo, então, perceberá que não se pode vislumbrar a própria alma olhando um espelho, pois tudo que verá é carne.
Sendo assim, se realmente deseja conhecer-se, há de descobrir um jeito único de mergulhar nas próprias profundezas. Aos demais, onde esse desejo não for latente, é de bom grado que se contentem com o reflexo, com uma alma espelhada.
Haverá sempre, a esse mergulho, os que tentarão, entre eles: os que fracassarão e os que conseguirão; e a maioria.

Monday, December 03, 2007

Ao anoitecer

Tudo quede singelo há de construir, pois só pode ser simples aquele que é sincero com suas próprias grandezas e ciente de sua verdadeira miudeza.
há de construir grandes mudanças, aquele que se ater a não desviar do correto, a manter o corpo ereto e não fraquejar; mas que também for sensível de alma, e sentir o sentido e o peso de caminhar por auroras.
Pois eu acho que auroras ainda hão de nascer e morrer, e espero que todos nós tenhamos vontade de fazê-las ser, ainda mais belas...

Friday, November 16, 2007

Até que...

Passos descompassados se equilibram com auxílio das mãos (marcas na parede). Parece um porre, mas é só sua falta (um porre). O tempo prolongado que me falta em cada dia, é madrugada acordado bolando planos (futuro até quando?). E a incerteza é que me faz torcer fervorosamente pela rotina e contra o acaso (tédio e contra-senso). E é a vontade de te acordar amanhã que me deita cedo, e dá o "boa noite" invertido no relógio biológico etário (indiferente a pressões). Seus olhos sempre brilhando pro céu, refletidos nos meus: oração sem parênteses, mas com mãos intercaladas em prece.

Friday, July 13, 2007

Para escrever é preciso coragem, pois as palavas podem perder seus significados com o tempo, porém elas nunca deixarão de falar por quem as escreveu, que a partir de então se tornará um imortal mutante, pois será ressucitado de uma maneira diferente a cada um que estabelecer contato com suas escritas, ou, ainda, pode ser taxado de alguma coisa, e ser ressucitado um monstro durante centenas e, talvez, milhares de anos. Por isso, é preciso coragem, para se escrever, coragem de dialogar eternamente por suas idéias.
O maniqueísmo é uma mentira, pois não é possível desvincular de tudo, as suas justificativas. Assim, ao Judiciário, só é mesmo possível apoiar-se sobre os fatos, pois de outra forma não lhe haveria razão de ser.

Monday, June 04, 2007

Fluência

Desde alguém, um sopro, provocando brisas em você, ventos perto daqui, ciclones lá, mas também cá. E mais sopros... Até que não se saiba de onde surgiu o primeiro e nunca se queira saber do último.

Classificado meu quadro e minha moldura: louco e
...
humano.


Friday, June 01, 2007

Mal conjugado

É mentira! Entre nada que eu disser, você acredite no silêncio. Se jorrarem verbos da minha boca você trate de conjugar com o esquecimento. Se desprenderem adjetivos, você cuide de tornar o sujeito indeterminado. Não importa, eu deixo claro que minha garganta não fala por mim.

Mas se eu falar pelo brilho dos olhos, ao te ver: é verdade.

Rotina

Não é que a poeira baixou lá debaixo dos pés. Não que é eu fiquei parado, estático, boquiaberto, atado. Tudo pareceu ser, diante de nós, assim: normal. Talvez tenha sido eu, sozinho, a não me acostumar. Talvez tenha sido, você, sozinho a não se acostumar. Vai ver ninguém disse uma palavra, e vai ver ninguém ouviu. Fui ver e todos olhavam pra frente, incoveniente é melhor não se ver.

Foi uma mão estendida na calçada, gritando sua fome...

Wednesday, April 25, 2007

Intersecções

Das coisas todas que se formam juntas, e também das outras que se aglutinam depois, existe um pouco do todo em cada uma. Cada parte é um punhado de desesperanças do conjunto em ser conjunto novamente, e o conjunto, a cada parte que se sente parte, se fortaleçe de outros conjuntos, onde aquela parte desgarrada acabou por se aglutinar. E todos os conjuntos, nessa lógica interativa, acabam por ter em suas partes, partes de todos os outros conjuntos. E assim, o todo é uma coisa só, e o não existe ao todo.

Tuesday, March 27, 2007

Fazer arte não é expressar um sentimento, é encontrar no sentimento alguma coisa universal, que quando expressada será identificada por outros.

Tuesday, March 20, 2007

Soltas

Quando as portas daqui te abriram, era para te libertar.

Faço do coração o céu, não o réu.

Não está nunca tão longe, para que meus braços não descansem sobre os seus.

O repouso da minha lágrima é no fundo dos olhos espelhando sua imagem.
O repouso da minha alma só pode ser no sorriso aberto, como flor, pintado no encontro, por seis ou setes tons.

Vai sempre, comigo, buscando a paz, na imensidão sua.

Quando as portas daqui te abriram, era para te libertar.

Sunday, March 04, 2007

Conforme


Cego, porque estou convencido de que vejo.
Surdo, porque estou convencido do silêncio.
Mudo, porque estou convencido do direito de falar.

Mudo, mas ainda assim continuo aqui.

Monday, February 19, 2007

É sempre carnaval

O festejo desde cedo lá na rua, irrompendo em silêncio suas canções, faz de conta dissimulada alegria; contra o peito: o sorriso nas feições. Caminhando sob a fé da euforia, ora vivas, ora gritos; ora agora. Tão senhora esfarrapada fantasia, alienando com destreza outras questões. Já que cinzas não apagam o ritual, vai desfilando entre os blocos: a miséria, confundida de qualquer alegoria, tão invisível seus efeitos na folia. É fevereiro o ano inteiro, mesmo em janeiro, vamos comemorar, dançar, e assistir aonde vai dar.

Friday, February 16, 2007

Vôo noturno

O espectro dorme, repousado sob a noite. O verde, o azul, o amarelo, se apagam. Os sons ressoam, ecoam, em notável propagação, arranhando a face do silêncio. Algumas luzes solitárias pairam sobre tetos abandonados de vida ativa, e esperam, também, descanso. Uma fazenda, uma lâmpada, aguarda ser ofuscada. Uns pontos (faróis) se direcionam sempre para casa, não importa o quanto se afastem. E eu, voando, em velocidade imensurável, para cinco ou seis filtros, dos quais eu disponho, estou indo em caminho do perfume, do jeito, da fala, da luz, do descanso ao peito, da saudade, inesgotável.

Tuesday, February 13, 2007

Sinfonia nossa

A ternura, tão bem aconchegada no silêncio de sentidos dos seus gestos, não merece ser perturbada por ruído algum que não parta do princípio fundamental do universo de nós dois. Ah, nosso universo, infinitamente extasiante de paisagens, construídas de alguma inefável mágica, química; não se coloca em posição de ser minado por nenhuma melodia, que não da sinfônica composta pelo bater arritimado do peito, acompanhada pela expressão resplandecente dos olhos, e o contorno mecânico formado nos lábios, assim como a gelidão inebriante, espalhada em calafrios, até os pés. Um espetáculo de fábulas, insubstituível por qualquer deleite que não acompanhe a essência desse estado, possível apenas no amor, nosso amor.